O governo maquiou os balanços oficiais do PAC com o propósito de esconder atrasos na execução das obras.
Deve-se a revelação aos repórteres Eduardo Scolese e Ranier Bragon. Em notícia levada às páginas do jornal Folha de São Paulo, a dupla informa:
“Três de cada quatro ações destacadas no primeiro balanço do PAC não foram cumpridas no prazo original”.
Para encobrir o problema, recorreu-se à maquiagem. Vão abaixo os detalhes que evidenciam a manobra:
1. Gestora do PAC, a ministra-candidata Dilma Rousseff reuniu os jornalistas, no início de fevereiro, para divulgar o balanço de três anos do programa.
2. Sob holofotes, a “mãe do PAC” anunciara que 40% das ações previstas no programa já haviam sido cumpridas.
3. Nas principais obras, a taxa de conclusão era, segundo a chefe da Casa Civil, de 36%.
4. Para corroborar as palavras da ministra, o Planalto distribuíra aos repórteres um documento em que a lista de obras é adornada por ilustrações.
5. Ao lado de cada empreendimento, três vocábulos traduziam o estágio em que se encontravam os canteiros de obras.
6. Para a maioria das obras mais relevantes do PAC, utilizou-se um carimbo verde: “Adequado”.
7. Os carimbos em amarelo –“Atenção”—e em vermelho –“Preocupante”— figuram no levantamento oficial como escassas exceções.
8. Os repórteres compararam esse levantamento de fevereiro ao balanço inaugural do PAC, que Dilma fizera em maio de 2007.
9. Confrontaram os dados também com os indicadores apresentados nos oito balanços que se seguiram ao primeiro.
10. Descobriram: muitas das obras que aparecem no balanço mais recente com o carimbo verde passaram por uma revisão de metas.
11. Os prazos de conclusão foram dilatados. Parte das obras, cuja conclusão fora prevista ainda para a era Lula, simplesmente foram jogadas para a próxima gestão.
12. O governo lançou mão do pa©osmético sem mencionar, de um balanço a outro, que ajeitava com ruge e batom a face do programa.
13. Não é só: além de pintar, o governo passou o bisturi em algumas obras, fatiando-as. Com isso, manteve o prazo de entrega de pedaços de empreendimentos que, tomados por inteiro, atrasariam além do desejável.
14. Há mais: numa das obras que teve preservado o prazo de entrega trocou-se o objeto: em vez da conclusão da obra, a meta passou a ser a “entrega do projeto”.
15. Há pior: algumas das ações que, por atrasadas, enfeiavam o balanço foram passadas na borracha. Sumiram em levantamentos seguintes.
16. O primeiro balanço do PAC, aquele de maio de 2007, cobria o primeiro quadrimestre do programa –de janeiro a abril daquele ano.
17. O texto classificava como grandes 76 obras. Comparando-se esse levantamento com os posteriores, sobretudo o último, verifica-se:
18. Nada menos que 75% das grandes obras (57) padecem de atraso no cronograma. Onze foram empurradas para dentro da próxima gestão, a ser inaugurado em 2011.
19. Desses 57 empreendimentos atrasados, 38 ainda estão em andamento. Ganharam novos cronogramas.
20. O atraso médio é de um ano e meio em relação ao que fora prometido em 2007.
21. Significa dizer que que essas 38 obras deveriam figurar no último balanço trazido à luz por Dilma com carimbos amarelos ou vermelhos. Porém…
22. Porém, apenas 16% delas figuram na peça acompanhadas das inscrições “Atenção” e “Preocupante”. As demais foram brindadas com sombra verde: “adequado”.
No último dia 20 de fevereiro, ao discursar no Congresso petista que aclamou Dilma como presidenciável oficial, Lula dissera:
“Posso dizer que nunca antes na história do país houve programa de investimento em infraestrutura tão organizado, tão discutido e tão planejado como nós fizemos o PAC”.
Considerando-se a checagem de Scolese e Bragon, Lula talvez estivesse falando de outro PAC, até aqui insuspeitado: o Programa de Aceleração do Cosmético.
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