sábado, 13 de março de 2010

As verdades sobre Cuba - 1

RESPOSTA ABERTA AO PRESIDENTE LULA

Não se assustem não. Os chimpanzés, os grandes primatas e o GAP nada tem a ver com isso. Isto está relacionado com o meu passado cubano. Eu sou um ex–prisioneiro político, que, para o nosso Presidente, são comparáveis aos bandidos que lotam as prisões paulistas, e não teria direito a protestar, nem a fazer greve de fome, como o operário cubano Orlando Zapata, que morreu após 85 dias desse protesto.

Em 1961, eu tinha 20 anos. Desde os 16 lutei contra a Ditadura de Batista e anos depois tive que lutar contra a dos irmãos Castro, amigos fraternos do nosso Presidente. Na prisão de Cabana, dirigida por Che Guevara, passei várias semanas. Presenciei a morte de vários de meus companheiros estudantes, garotos até mais jovens do que eu. Também presenciei a morte do Comandante Humberto Sori Marin, que redigiu a primeira lei de Reforma Agrária quando lutava na Serra Maestra, junto aos irmãos Castro, e depois lutou contra a ditadura implantada por eles. Todos aqueles fuzilados no Paredão da Cabana nunca tiveram um julgamento, um advogado de defesa, nem puderam falar sua verdade. Essa história se repetiu centenas, milhares de vezes. Algum dia essa história terrível e tenebrosa da Cuba Castrista será conhecida.

Eu era Secretário Geral da Federação de Estudantes Católicos de Cuba, com três universidades e dezenas de colégios. Todas as universidades e escolas foram fechadas e ocupadas pelo regime ditatorial e nunca mais o ensino privado existiu.

Para a Justiça Castrista só opinar contrário ao regime te condena. Se fosse publicada em Cuba, esta carta me levaria à prisão por longos anos. Por isso Orlando Zapata morreu, por querer opinar, falar sua verdade. Isso em Cuba é um privilégio dos irmãos Castro e os que vivem sob sua sombra.

Eu fiz o compromisso de nunca falar de política cubana neste espaço, já que as causas dos grandes primatas e ambientais não têm cor política e precisam do apoio de todos. Porém, estaria traindo a mim mesmo, aos meus companheiros que caíram em 50 anos de luta, e ao meu “país adotivo” - o Brasil - se não falasse o que sinto neste instante, ao ser humilhado duplamente pelo Presidente do meu país, que me condenou sem conhecer-me, sem julgar-me e sem poder defender-me, como os irmãos Castro – assassinos múltiplos – fazem com o seu povo.

Dr. Pedro A. Yinterian


Diretor Presidente e Fundador do Grupo Interlab, Dr Pedro A. Ynterian criou no município de Sorocaba, São Paulo, um criadouro conservacionista para fauna silvestre e um santuário para grandes primatas que se converteu no maior centro de primatas da América Latina de origem privada. O empreendimento recebe e mantém primatas e outros animais ameaçados de extinção.

As verdades sobre Cuba - 2

Presos políticos não existem nas democracias.


Uma greve de fome de 85 dias não foi suficiente para convencer ao Governo cubano de que era necessário preservar a vida desta pessoa, acima de qualquer diferença ideológica. 85 dias não foram suficientes para mover a compaixão de um regime que se vangloria de sua solidariedade, porém na prática aplica esta solidariedade unicamente a seus simpatizantes.

Nada podemos fazer agora para salvar este dissidente, porém podemos ainda alçar a voz em nome de Guilermo Fariñas Hernández, que há 17 dias se encontra em greve de fome em Santa Clara, pedindo a libertação de outros presos políticos cubanos, em particular aqueles em precário estado de saúde.

Sem dúvida, a greve de fome é uma arma delicada como ferramenta da protesto. Seria perigoso que qualquer Estado de Direito se visse na obrigação de libertar aos privados de liberdade, se decidem recusar sua alimentação. Porém estes presos não são como os demais, nem Cuba cumpre as condições de um Estado de Direito. Trata-se de presos políticos ou de consciência, que não cometeram outro delito que fazer oposição a um regime, que foram julgados por um sistema judicial de independência questionável e que sofreram penas excessivas sem haver causado nenhum dano a outras pessoas.

Os presos políticos não existem nas democracias. Em nenhum país verdadeiramente livre, alguém vai para a prisão por pensar diferente. Cuba pode fazer todos os esforços de oratória que deseje para vender a idéia de que é uma “democracia especial”, porém cada preso político nega na prática esta afirmação. Cada preso político é uma prova irrefutável de autoritarismo.

A isto se soma o fato de que se trata de pessoas com uma saúde muito debilitada. E aqui é certo que importam as razões pela qual alguém tenha ido para a prisão.Todo o governo que respeite dos Direitos Humanos deve ao menos mostrar compaixão ante estado débil de uma pessoa, no lugar de chamá-la de “chantagista”.

Sempre tenho lutado por uma transição cubana até a democracia. Sempre tenho lutado para que esse regime de partido único se converta em um regime pluralista e deixe de ser uma exceção no continente americano. Estou convencido de que em uma democracia, se alguém não tem oposição, deve criá-la, não persegui-la, reprimi-la e condená-la a um inferno carcerário como está fazendo o regime de Raúl Castro.

O Governo cubano tem agora em suas mãos a oportunidade de demonstrar ao mundo os primeiros sinais dessa transição democrática, que desde há muito tempo esperamos. Tem a oportunidade de demonstrar que pode aprender a respeitar os Direitos Humanos, todos os direitos dos seus opositores, porque não tem nenhum mérito que respeite somente os direitos dos seus partidários. Se o Governo cubano libertasse os seus presos políticos, teria mais autoridade para reclamar respeito ao seu sistema político e a sua forma de fazer as coisas.

Estou consciente de que ao fazer estas afirmações me exponho a todo o tipo de acusações por parte do regime cubano. Me acusarão de imiscuir-me em assuntos internos, de desrespeitar a sua soberania e, quase com certeza, de ser um lacaio do “império”. Sem dúvida, sou um lacaio do império: do império da razão, da compaixão de da liberdade. Não vou eximir-me quando se vulneram os direitos humanos. Não vou calar-me quando a própria existência de um regime como Cuba é uma afronta à democracia. Não vou calar-me quando se põe em cheque a vida de seres humanos, para defender uma causa ideológica que prescreveu há anos. Tenho vivido o suficiente para saber que não há nada pior do que ter medo de dizer a verdade.

Óscar Arias, Presidente de Costa Rica.
Prêmio Nobel da Paz - 1987
Artigo publicado hoje, no jornal El País, da Espanha.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Luís Nassif tem contrato milionário com governo federal



EBC paga R$ 1,2 mi a jornalista pró-governo
Luís Nassif diz que "notória especialização" justifica contratação sem licitação pela estatal que mantém TV Brasil


Jornal Folha de São Paulo - 11 de março de 2010
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O jornalista e empresário Luís Nassif mantém um contrato anual, fechado sem licitação, de R$ 1,28 milhão com a estatal EBC (Empresa Brasil de Comunicação), vinculada ao Palácio do Planalto e responsável pela TV Brasil.
A empresa de Nassif, Dinheiro Vivo Agência de Informações, produz um debate semanal, de uma hora, e cinco filmetes semanais de três minutos.
Do R$ 1,28 milhão do contrato, o jornalista fica com R$ 660 mil anuais a título de remuneração, o que equivale a salário de R$ 55 mil. Os pagamentos começaram em agosto. O programa estreou segunda-feira.
À Folha, por e-mail, Nassif afirmou que os insumos de produção cresceram de forma "não prevista no contrato original", por conta de "demandas adicionais da EBC", e que a parte destinada à Dinheiro Vivo corresponde a R$ 49 mil brutos mensais (ou R$ 39 mil líquidos), e não R$ 55 mil.
Os outros R$ 558 mil do contrato são destinados ao pagamento de uma equipe de nove pessoas e à compra de equipamentos. A gravação do debate é feita no estúdio da EBC, que também custeia deslocamento e hospedagem de convidados.
Em seu blog, Nassif tem se posicionado a favor do governo em várias polêmicas, discussões e escândalos. A página também se caracteriza por críticas a jornais e jornalistas.
Após a Folha ter revelado, no mês passado, que a Eletronet, empresa interessada em atos do governo, pagou R$ 620 mil ao ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, Nassif tentou desqualificar os jornalistas e fez a defesa de Dirceu.
A Dinheiro Vivo foi contratada por inexigibilidade de licitação, prevista na lei que regula as licitações. Indagado sobre isso, Nassif respondeu que a FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), vinculada à Secretaria de Estado de Educação de São Paulo, adquiriu em 2009, também por inexigibilidade de licitação, 5.499 assinaturas da Folha.
Segundo a assessoria da Secretaria de Educação, idêntico procedimento foi adotado para a aquisição de assinaturas do jornal "O Estado de S. Paulo" e das revistas "Veja", "Época" e "IstoÉ". O objetivo das compras, segundo a secretaria, é abastecer as bibliotecas de escolas públicas no Estado.
Para dispensar a licitação e contratar Nassif, a EBC argumentou que há uma singularidade no programa. Trata-se de um debate de uma hora semanal com três convidados, mediado por Nassif, que também recebe perguntas da plateia e de internautas.
Nassif disse à Folha que seu projeto já existia na TV Cultura, mas foi "descontinuado" logo depois de ele ter escrito artigos sobre "a piora dos balanços da Sabesp". Sobre a dispensa da licitação, o jornalista afirmou: "Presumo que por dois motivos. Ponto um: notória especialização. Os prêmios que acumulei ao longo de minha carreira e nos últimos anos atestam essa minha especialização. Ponto dois: sou o criador do Projeto Brasil de discussão de políticas públicas casando TV e internet apresentado à EBC".

Outros contratos
A EBC informou que mantém outros quatro contratos fechados por inexigibilidade de licitação. São relativos aos programas "Samba na Gamboa" (R$ 1,2 milhão anuais), da produtora Giros, "Papo de Mãe" (R$ 1,99 milhão), da produtora Rentalcam, apresentado pelas jornalistas Mariana Kotscho (NB: filha de Ricardo Kotsho - amigo e ex-assessor de imprensa do presidente Lula) e Roberta Manrezi, "TV Piá" (R$ 1,34 milhão), dirigido pela jornalista Diléa Frate, e "Expedições" (R$ 1,66 milhão), da jornalista Paula Saldanha.
O diretor jurídico da EBC, Luís Henrique Martins dos Anjos, diz que a contratação de programas artísticos ou jornalísticos, cujos direitos autorais pertencem a outras pessoas, sem licitação e por notória especialização está amparada em um entendimento firmado pelo plenário do TCU, no acórdão nº 201/2001, relatado pelo ministro Benjamin Zymler.
Sérgio Sbragia, sócio de Diléa Frate na produtora Serpente Filmes, afirmou que a escolha de sua empresa "foi um processo muito criterioso", que durou cerca de um ano.
A produtora Giros defendeu a dispensa da licitação. "O projeto "Samba na Gamboa" é apresentado pelo artista Diogo Nogueira. Em função do saber notório atribuído ao artista no mundo do samba (...), este contrato foi assinado de forma excepcional, dispensando licitação", afirmou Maria Carneiro Cunha, da Giros.
A jornalista Paula Saldanha disse que o programa "Expedições" "está há 15 anos no ar, conquistando os melhores índices de audiência em todas as emissoras em que foi exibido (Manchete, TVE e TV Cultura)". Procurada pela Folha na última terça-feira, a Rentalcam não ligou de volta até o fechamento desta edição.

domingo, 7 de março de 2010

Bancoop ou Bangolpe?


BANCOOP - VELHO É O PASSADO DO PT!!! OU: UMA HISTÓRIA QUE ESTÁ LONGE DO FIM
domingo, 7 de março de 2010



Engraçada e cínica a reação de petistas e petralhas diante dos descalabros do esquema Bancoop: “Ah, isso é notícia velha, requentada!” Velho, nesse ramo, é o passado do PT! Que o escândalo é antigo, disso ninguém dúvida. Já houve manifestações de protesto das pessoas que tiveram a vida arrasada pelos “companheiros”: investiram suas economias no sonho de um apartamento próprio e acabaram enriquecendo larápios.

Também já se suspeitava que o “Bangolpe” desviava recursos para o PT e para o bolso dos chefes da cooperativa. Mas faltavam as evidências materiais da safadeza. E elas apareceram. Sim, a investigação é antiga, como atestam as primeiras palavras da reportagem de VEJA — “Depois de quase três anos de investigação…” —, mas há evidências que são notícia fresquinha: “O Ministério Público de São Paulo finalmente conseguiu pôr as mãos na caixa-preta que promete desvendar um dos mais espantosos esquemas de desvio de dinheiro perpetrados pelo núcleo duro do Partido dos Trabalhadores: o esquema Bancoop”.

O que se tem agora e não se tinha até a semana passada:
1 - 8.000 páginas de registros de transações bancárias realizadas pela Bancoop entre 2001 e 2008;

2 – As evidências dos saques na boca do caixa feitos pela diretoria da cooperativa; no lote analisado, apenas uma parte dos documentos recebidos, eles já somam R$ 31 milhões;

3 – o pedido do Ministério Público de quebra de sigilo bancário de João Vaccari Neto, ex-diretor financeiro e ex-presidente da cooperativa e atual tesoureiro do PT e da campanha de Dilma Rousseff à Presidência;

4 – o valor de dinheiro transferido da cooperativa para o bolso de quatro dirigentes da cooperativa: o ex-presidente Luiz Eduardo Malheiro e os ex-diretores Alessandro Robson Bernardino, Marcelo Rinaldo e Tomas Edson Botelho Fraga – os três primeiros mortos em um acidente de carro em 2004 em Petrolina (PE). No total, R$ 10 milhões — no lote já analisado dos documentos, destaque-se;

5 – a informação de que 11 cheques, totalizando 1,5 milhão, datados entre 2005 e 2006, foram parar numa “empresa de segurança” de Freud Godoy — aquele do escândalo dos aloprados. A dita-cuja ficava em Santana do Paranaíba, cidade conhecida por contar com muitas empresas que só existem no papel. Os vizinhos nunca a viram funcionando no nº 89 da Rua Alberto Frediani.

MAS O LEITOR ESTÁ CERTO EM INTUIR QUE AINDA FALTA SABER MUITA COISA, NÃO É? E, BEM, ACHO QUE VAMOS FICAR SABENDO.

Fundos de pensão
O caso Bancoop é uma espécie de escândalo-símbolo ou escândalo-emblema do que é o petismo — ou, mais amplamente, de como se comporta isto que chamo “nova classe social” no poder. Recorri a esta expressão antes do sociólogo de esquerda Francisco de Oliveira; daí empregar a primeira pessoa. Eu até a batizei, como bem sabem os meus leitores mais antigos: “burguesia do capital alheio”.

O escândalo é exemplar porque não lhe falta o clássico desvio de dinheiro para o partido. Nesse sentido, antecipa, como apontado por VEJA, uma das faces do escândalo do mensalão do PT. Não lhe falta ainda o puro e simples enriquecimento ilícito de alguns “companheiros”. Afinal, vocês sabem, a ideologia dessa gente não é assim tão de ferro que resista ao ouro… Mas não é aí que está a cereja do bolo.

E onde está a cereja?
1 – como vocês já leram, Luiz Eduardo Malheiro, Alessandro Robson Bernardino, Marcelo Rinaldo e Tomas Edson Botelho Fraga eram diretores da Bancoop. Mas também eram, vejam que fabuloso!, donos da Germany Empreiteira, que tinha um único cliente: a Bancoop!!!;

2 – A Germany era a empresa que fazia a lambança com a dinheirama, conforme atesta ao Ministério Público um outro Malheiro, Helio, irmão de Luiz Eduardo, morto num acidente em novembro de 2004, em companhia de Bernardinho e Rinaldo. Ameaçado de morte, Hélio está num programa de proteção a testemunhas;

3 – Uma outra testemunha disse ao Ministério Público que Luiz Eduardo entregava envelopes de dinheiro diretamente a Vaccari, o chefão do PT;

4 – em 2004, Luiz Eduardo procura Ricardo Berzoini, então ministro do Trabalho, e diz que a cooperativa precisa de ajuda;

5 – em novembro de 2004, acontece o acidente de carro (ver post abaixo), e Vaccari assume a presidência da cooperativa;

6 – em dezembro, a Bancoop, que já estava quebrada, conseguiu captar no “mercado”, por meio da corretora Planner, nada menos de R$ 43 milhões — R$ 36,9 milhões dos quais saíram dos fundos de pensão de estatais controlados pelo… PT!!!

7 – Como dizia Clodovil, “boi preto conhece boi preto”: a corretora Planner foi investigada pela CPI dos Correios sob a acusação de ter causado um prejuízo de R$ 4 milhões ao fundo de pensão da Serpro.

Eis a cereja: cooperativa, fundos de pensão, estatais… Perceberam como essas coisas se misturam num todo orgânico, e o conjunto, no fim das contas, obedece a um ente, a um cérebro, que é o partido? Não por acaso, Vaccari foi presidente do Sindicato dos Bancários, dirigente da CUT, presidente da Bancop e é agora o tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff à Presidência.

O nome de Vaccari, que presidia a cooperativa em que se fizeram saques na boca do caixa de pelo menos R$ 31 milhões, aparece no escândalo dos aloprados. Foi para ele que Hamilton Lacerda, o homem que carregava a mala de grana do dossiê dos aloprados, ligou uma hora antes de fazer o pagamento. Sintetizo: Lacerda, braço direito de Aloizio Mercadante, ligou para Vaccari, o homem da cooperativa do dinheiro vivo, que coordenava a campanha do senador ao governo de São Paulo em 2006 e que também é seu segundo suplente. A Polícia Federal não conseguiu descobrir a origem do dinheiro.

Pedro Abreu Dallari, advogado da Bancoop, tem uma explicação para a coisa toda: alimentar o pedido do PSDB de CPI na Assembléia paulista. “É a única explicação que encontro para tantas leviandades.” É a famosa tese da conspiração dos adversários.

A gente não deve perguntar a Dallari — já que ele é pago para defender — se também é leviandade apontar o rombo de mais 100 milhões na cooperativa e as três mil famílias lesadas pelos “companheiros”. Vai ver isso tudo não passa de uma trama tucana!

Pedrinho vai ter de usar melhor o seu bodoque. Essa história parece bem longe do fim.