Há dias, o pré-candidato tucano José Serra criticou o estágio em que se encontra o Mercosul — que, de fato, tem sido fonte de prejuízos para o Brasil. Por conta dele, o país não realiza acordos bilaterais e perde mercado. No ambiente do próprio bloco, comporta-se com a generosidade dos grandes, cedendo sempre. Vale dizer: perde na relação com os países fora do grupo; perde na relação com os países do grupo.
Bastou a crítica de Serra para que os petistas se juntassem a autoridades argentinas e saíssem em defesa do bloco, como se o tucano tivesse chutado a santa. O senador Aloizio Mecadante (PT-SP), que costuma falar sempre com muita autoridade sobre assuntos dos quais não entende nada, escreveu um artigo afirmando que o ex-governador de São Paulo havia dado um tiro no pé.
UMA SEMANA DEPOIS, A ARGENTINA BAIXOU UMA MEDIDA PROIBINDO A IMPORTAÇÃO DE ALIMENTOS PRODUZIDOS NO BRASIL QUE TAMBÉM SEJAM PRODUZIDOS NAQUELE PAÍS, evidenciando que o Mercosul, com efeito, vai mal das pernas e tem de ser rediscutido.
E agora? O que faz um petista diante da evidência de que o adversário estava certo? A Folha Online informa o que segue. Volto depois:
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A pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, defendeu hoje que o Brasil retalie a Argentina se o país vizinho proibir a importação de alimentos que também sejam produzidos localmente.
A medida, anunciada na quinta passada pelo secretário do Comércio Interior argentino, Guillermo Moreno, está prevista para vigorar em junho e pode barrar produtos brasileiros como carne suína, tomates e milho em conserva.
“Existe pela OMC [Organização Mundial do Comércio] e pelo Mercosul a possibilidade de retaliar. Uma medida tão agressiva como essa que foi tomada contra o Brasil, ela tem de ser respondida. O primeiro momento é ter uma posição firme, muito forte”, disse a presidenciável durante entrevista ao programa “Painel RBS”, hoje pela manhã.
A petista sustentou que o Brasil deve lidar da mesma forma como “quando começamos a brigar com os Estados Unidos pelo algodão”.
O país obteve o direito de retaliar produtos americanos porque Washington deu ao setor algodoeiro subsídios que a OMC considerou ilegais.
Dilma também criticou a medida não ter sido formalizada pelo governo argentino. “Não acho adequado o que foi feito pela Argentina contra o Brasil. Primeiro, foi feito sem manifestação formais. Uma relação entre dois países é formal”, declarou.
Viram? Da defesa acrítica, beirando a boçalidade, do Mercosul, como fez Mercadante, à defesa da retaliação! Sem escalas. Afinal, pode pegar mal a um candidato dar a entender que não está defendendo os interesses nacionais…
E não custa notar: quem denunciou os EUA na OMC foi o governo FHC; a decisão só saiu agora. E a comparação feita por Dilma Rousseff é absolutamente descabida. Naquele caso, tratava-se da luta contra subsídios na negociação de um país com seu parceiro comercial, fora de um bloco econômico.
Possibilidade de retaliar “pelo Mercosul”? Do que Dilma está falando? As decisões no bloco só podem ser tomadas por consenso — com o voto da Argentina também. Na OMC? O Brasil vai lá denunciar o seu “companheiro” de bloco? A única coisa a fazer é devolver na mesma moeda, provando, de novo, que o Mercosul não passa de uma ficção que custa caro ao Brasil.
A tradição do governo Lula, na sua relação com os parceiros do Mercosul, tem sido ceder.
do blog do RA.
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