terça-feira, 29 de março de 2016

O ESCÂNDALO DAS CALCINHAS

Durante a ditadura militar, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo foi cassado por usar verbas do gabinete em viagens e compras no exterior.

Em três de dezembro de 1976 o Diário Oficial da União publicou ato do governo militar, presidido pelo general Ernesto Geisel, suspendendo os direitos políticos e cassando o mandato do deputado estadual Leonel Julio, do então MDB, naquilo que ficou conhecido como “o escândalo das calcinhas”.

O deputado Leonel Julio, eleito pela região periférica de Ermelino Matarazzo, tornou-se presidente da Assembleia paulista como resultado de entendimento entre diversas correntes políticas do MDB (oposição ao regime militar) e da ARENA (partido de apoio ao regime militar), únicos partidos permitidos naquele tempo. Leonel, um homem pacato, de relacionamento afável com todos, surgiu como um terceiro nome que não tinha grandes rejeições. Acabou eleito para acomodar o desajuste interno e tentou estar à altura do cargo, a despeito de sua condição humilde de parlamentar educado, mas sem grande base cultural.

Deslumbrado pelo poder e pela importância do cargo, Leonel, dizia-se então, mal assessorado, realizou viagens e compras com verbas da Assembleia e comitivas exageradas. Claro que perto dos escândalos de hoje em dia aquilo seria considerado hoje coisa extremamente pequena. Num dos retornos, Lionel mandou chamar vários jornalistas setoritas (que cobrem um setor apenas - no caso a ALESP) à sala de reuniões da presidência, numa mesa abarrotada de presentes, do tipo perfumes, canetas, chaveiros, enfim, lembrança de viajante da época em que o país era mais província ainda, super fechado economicamente e onde uma caneta importada tinha status de presente de casamento, pedindo a cada um que escolhesse o que desejasse.

Alguns jornalistas explicaram de forma educada que sua funções não permitiriam aceitar (coisa daqueles tempos de um pouco mais de recato!), o que até deixou o deputado surpreso, aparentemente ofendido.

A questão ficou feia quando através de denúncia de pessoas de dentro do próprio gabinete da mesa diretora, os jornalistas receberam cópias de notas fiscais de compra de calcinhas femininas no exterior, em grande quantidade. E a revelação caiu como bomba entre os jornalistas. Como notícia o fato era importante, grave, por se tratar de dinheiro público.

Publicadas as matérias nos principais meios de comunicação, Leonel Julio foi cassado quase que sumariamente, por ordem do regime.

Hoje o Brasil é um outro país onde há total liberdade de expressão e do direito de defesa. Isso mostra como há políticos que usam de um direito universal das democracias para protelar processos no sistema judiciário. Em todos os casos, nessas situações, cobra-se de políticos e administradores a correção e atitude honrosa de se afastar por decisão própria da função pública enquanto se defende de acusações. Temos o Estado Democrático de Direito conquistado, mas políticos continuam a se apropriar do que é público. Políticos de todas as matizes ideológicas, sem exceção.

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