quarta-feira, 13 de outubro de 2010

A Petrobras na era FHC - desfazendo mitos e mentiras




Abaixo, artigo publicado em agosto de 2003 sobre a Petrobras na revista eletrônica Universia-Knowledge@Wharton.


A Petrobras, companhia estatal petrolífera brasileira, teve um lucro recorde de R$ 9,372 bilhões - cerca de US$ 3,157 bilhões - no primeiro semestre de 2003. Além disso, a empresa foi mais uma vez apontada como a maior do país de acordo com o ranking 2003 do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia), ligado à FGV (Fundação Getúlio Vargas). Em 34 edições do levantamento, a Petrobras não foi a primeira em apenas três ocasiões, sendo que a última ocorreu em 1993, mesmo assim porque a avaliação foi afetada por uma metodologia de cálculo diferente da atual. Para entender o sucesso desta estatal que faz meio século no dia 3 de outubro de 2003, a revista eletrônica Universia Knowledge@Wharton consultou especialistas em administração e petróleo para avaliar sua gestão.

Segundo boletim da PIW - "Petroleum Intelligence Weekly" (semanário considerado a "bíblia" do setor) de fevereiro de 2003, a Petrobras é a 12ª maior companhia do ramo de petróleo no mundo. É a mesma posição que ocupa o Brasil no ranking dos países que mais produzem o chamado "ouro negro".

Os R$ 9,372 bilhões (ou US$ 3,157 bilhões) de lucro obtidos ante um faturamento de R$ 47,891 bilhões (US$ 16,13 bilhões) no primeiro semestre deste ano são um valor que não pode ser desprezado. Trata-se de um crescimento de 223,1% em relação aos números de igual período do ano passado. Mesmo na comparação com todo o ano de 2002, o resultado é melhor, já que o lucro da empresa na ocasião foi de US$ 2,3 bilhões, para um faturamento total equivalente a US$ 22,6 bilhões.

A produção da estatal no período também cresceu significativamente, o equivalente a 10,7% em relação aos seis primeiros meses do ano passado, passando da média de 1,826 milhão de barris de óleo equivalente (boe - medida que leva em conta a produção de petróleo e de gás natural) para 2,022 milhões de barris, em território nacional e no exterior.

"É um belo lucro. Não é um mau desempenho, de forma nenhuma. É difícil imaginar que a Petrobras tenha um mau desempenho. Enfim, o produto dela e a condição de monopolista no mercado brasileiro lhe asseguram um grande estofo", afirma o professor Carlos Osmar Bertero, chefe do Departamento de Administração Geral e Recursos Humanos da FGV-EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo - Fundação Getúlio Vargas).


A dificuldade de romper o monopólio estatal

É justamente este ponto citado por Bertero que é apontado como determinante para os bons resultados da estatal: trata-se de uma empresa monopolista, que no ramo da extração de petróleo é responsável por cerca de 99% da produção nacional.

Em 1997 terminou oficialmente o monopólio da Petrobras, com a abertura do setor à iniciativa privada. Porém poucas empresas, mesmo as grandes multinacionais, conseguem enfrentar a posição consolidada da estatal. "O monopólio acabou formalmente. Agora, você não pode esquecer que nós tivemos no Brasil qualquer coisa como mais de 40 anos de monopólio da Petrobras. Isso fez com que, naturalmente, a empresa acumulasse uma competência e ocupasse um espaço no mercado que está presente até hoje. Então eu tenho a impressão de que entrar no mercado brasileiro não é uma coisa fácil", diz Bertero.

Mesmo assim, Bertero lembra que a noção de que a Petrobras é uma empresa eficiente não é nova: "Mesmo no tempo em que tinha monopólio garantido por lei, ela nunca deixou de fazer uma coisa muito fundamental: não deixou o Brasil sem derivados de petróleo". Ele cita o exemplo do sistema Telebrás que, antes do processo de privatização, realizado em 1999, não supria o mercado interno com os serviços que lhe eram solicitados.

"A Telebrás era um monopólio de telefonia que não tinha telefones. Ela afundou-se porque não é possível um monopolista não abastecer o mercado, e foi exatamente o caso desta empresa. No caso da Petrobras, não. Sempre houve no Brasil derivados de petróleo. A Petrobras nunca deixou de abastecer o mercado nacional", explica Bertero.


Do nascimento à atual posição de liderança

Criada em 3 de outubro de 1953, durante o governo do então presidente Getúlio Vargas, a Petrobras teve uma evolução considerável principalmente a partir dos anos 70, depois dos chamados "choques do petróleo" causados pela alta excessiva de preços manipulada pelo controle da oferta do produto feita pela Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo – cartel que reúne grandes produtores desta commodity).

"A liderança (entre as empresas brasileiras) foi sendo construída ao longo dos anos, desde o período em que ela foi criada, com a definição da questão estratégica (de concentração do petróleo nas mãos do Estado). Só que o país investiu muito mais a partir da crise do petróleo da década de 70. Foi quando a empresa começou a deslanchar, na virada dos anos 70 para os 80. Nesta época, começaram a aparecer os primeiros resultados na pesquisa de petróleo em águas profundas”, explica o economista e pesquisador Aloísio Campelo Júnior, Coordenador de Pesquisas Empresariais do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia - Fundação Getúlio Vargas), responsável pelo ranking 2003 do instituto, que apontou a Petrobras como a maior empresa não-financeira do Brasil.

Além disso, Campelo Júnior destaca a evolução e a mudança nas características de gestão da companhia estatal: "A partir do momento em que a sociedade exigiu a boa gestão dos recursos, já que é uma empresa estatal, ela passou a ser um modelo de administração, uma empresa muito boa, com pessoal eficiente".

"Eu acho que isso (a mudança na gestão) foi mais ou menos um esquema adotado por Reichstul (Henri Philippe Reichstul, ex-presidente da Petrobras entre março de 1999 a janeiro de 2003, durante o governo Fernando Henrique Cardoso). Ele foi lá colocado mais ou menos com o intuito de tornar a Petrobras uma empresa menos pesada, mais ágil, e que fosse de certa forma gerida de acordo com aquilo que se considera hoje ser o adequado na gestão de uma empresa, ou seja: produzir mais resultados, mais lucros, mais valor de mercado, atender melhor aos interesses dos acionistas e tudo o mais", diz Carlos Osmar Bertero.

Campelo Júnior concorda com esta avaliação. Segundo ele, a partir da gestão do governo Fernando Henrique Cardoso, “a Petrobras começou a trabalhar em um ambiente que seria mais parecido com aquilo que acontece no setor petrolífero de outros países. E se beneficiou sim, por ser uma empresa de petróleo e sofrer uma política menos intervencionista. Ficou com preços mais parecidos com os do exterior nos últimos anos, aumentou muito a produção e a participação dela no comércio externo brasileiro. Tanto que ela não era a maior exportadora e passou a ser porque, com a retração do nível da atividade interna, ela tinha alguns produtos em excesso."


Os riscos de uma nova administração

Como em toda mudança, a passagem de uma antiga administração para uma nova causa certas preocupações e mexe com os ânimos do mercado. Isso aconteceu devido às novas indicações promovidas pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu em 1º de janeiro de 2003.

"O que a gente ouve falar é que neste governo do presidente Lula tem havido algumas nomeações na Petrobras que fogem um pouco daquilo que é a tradição da empresa. Isso é o que eu tenho lido na imprensa. O que foge é o seguinte: quase sempre a Petrobras teve a presidência ocupada por pessoas familiarizadas com o ramo de petróleo, muitos deles até mesmo com algum tipo de associação anterior com a empresa. Atualmente a Petrobras foi entregue claramente a representantes do partido governista, que é o Partido dos Trabalhadores (PT). Não há nenhum inconveniente que os dirigentes sejam de um partido político. O problema é que, segundo as observações que têm saído na imprensa, lhes faltaria um pouco de competência. Então isso é um risco. A ser isso verdade, claramente isso pode comprometer um pouco a gestão da empresa", avalia Carlos Osmar Bertero.

Apesar desta observação, Bertero pondera sua avaliação, considerando que, a princípio, a boa gestão da Petrobras não corre riscos e que não há possibilidade de um recuo na condução da empresa: "No caso da Petrobras não imagino que possa haver muitas mudanças no sentido de um retorno à ´velha Petrobras`. Acho isso muito difícil".

No entanto, alguns sinais de influência maior do governo federal sobre a Petrobras vêm sendo notados no mercado especializado. "Hoje você não vê o presidente da Petrobras (José Eduardo de Barros Dutra) indo a público falar sobre as políticas de preços dos combustíveis, por exemplo, mas, sim, a ministra de Minas e Energia (Dilma Rousseff)", afirma Fabiana Fantoni, analista da área de petróleo da consultoria Tendências Consultoria Integrada.

Essa perda das rédeas de políticas intimamente ligadas à gestão da empresa, segundo Fabiana Fantoni, tem deixado alguns agentes do mercado um pouco apreensivos com a possibilidade de haver ingerência do governo na administração da companhia.

No entanto, ela lembra que ultimamente as notícias relacionadas à Petrobras têm sido tão positivas – como no caso do anúncio de que, nos últimos 12 meses, foram encontradas reservas equivalentes a 4 bilhões de barris de petróleo e a 419 bilhões de metros cúbicos de gás natural - que o mercado tem prestado pouca atenção a detalhes da nova gestão da empresa.

Sobre o lucro líquido recorde da Petrobras no primeiro semestre de 2003, Fabiana Fantoni afirma que os números não devem se repetir na mesma proporção nos seis últimos meses do ano. Para ela, a tendência é de que o resultado siga mais parecido com o do segundo trimestre de 2003, que, segundo ela, chegou a decepcionar o mercado. O lucro somado nos meses de abril, maio e junho caiu 31% em relação ao resultado dos três meses anteriores, ficando em R$ 3,8 bilhões contra os R$ 5,5 bilhões do primeiro trimestre do ano.

Mas, de acordo com Fabiana Fantoni, nada disso abala a forte estrutura que dá base à Petrobras. Para a analista da agência de consultoria Tendências, os investimentos previstos para os próximos anos pela estatal são suficientes para cobrir percentuais de evolução do setor na mesma proporção da média de crescimento histórico dos últimos tempos (que tem variado entre 8% e 10% ao ano).


Perfil da Empresa

Atualmente (2003), a Petrobras é referência mundial na exploração de petróleo em águas profundas, tendo sido uma das primeiras companhias do mundo a desenvolver tecnologia para a extração de óleo nestas circunstâncias. A estatal tem quebrado recordes consecutivos neste setor. A última marca mundial foi obtida neste ano, no Campo de Roncador, na Bacia de Campos (RJ), em que há a exploração de petróleo de um poço cavado a partir de uma lâmina d´água de 1.886 metros de profundidade. A meta da empresa é chegar a profundidades superiores a 3.000 metros de água.

Em 1997, o Brasil ultrapassou a marca de 1 milhão de barris de petróleo extraídos ao dia. Atualmente, as reservas ativas da Petrobras somam 10,5 bilhões de barris equivalentes de óleo e gás. A produção média da companhia em território nacional está em 1,586 milhão barris de óleo por dia, segundo dados de agosto passado. Somando-se a extração de gás natural, chega-se a 1,841 milhão de barris equivalentes ao dia. Caso seja incluída aos números a extração de óleo e gás nas unidades da Petrobras fora do Brasil, a produção da companhia sobe para 2,091 milhões de barris equivalentes por dia.

Além do Brasil, a Petrobras atua em outros 12 países: Angola, Argentina, Bolívia, Cazaquistão, Colômbia, Estados Unidos, Equador, Guiné Equatorial, Nigéria, Peru, Trinidad & Tobago, e Venezuela.

A expectativa da empresa é que o Brasil se torne auto-sustentável em 2006 na relação entre o que produz e o que consume internamente de petróleo. Agora em 2003, de acordo com dados da companhia, o país produz quase 90% daquilo que consome de petróleo.

2 comentários:

  1. Ao ler blogs, e colunas de jornal aprendi que quem muito argumenta é que está escondendo algo. É o que ocorre aqui, se a mentira tem pernas curtas use no mínimo dois parágrafos para explicar. Boa sorte.

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  2. É Edu, a verdade pelo visto dói também.

    Nada mais do que normal.

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